6.1.21

Vamos Falar da Experiência Uraboku

E aí, gente legal? Tudo bem com vocês? Vejam só, nosso primeiro post do ano! Por falar nisso, feliz ano novo para vocês aí do outro lado. Espero de verdade que 2021 seja um pouquinho menos pior do que 2020 para todos nós. Eu até pretendia fazer um post como "ritual de passagem" de um ano pra outro, mas todos os textos que escrevi ficaram só terrivelmente piegas, então né. Vou poupar vocês disso. Devo dizer que eu nem estava planejando fazer post de análise tão cedo aqui, afinal acabamos de começar 2021, mas as minhas primeiras leituras foram tão surpreendentes para bem ou para mal *risos* que a mãozinha coçou, não resisti. Inclusive, se tem um negócio que foi saldo positivo do ano passado foram minhas leituras — muito embora eu tenha lido pouquíssimos livros e um monte de mangá. Taí, uma promessa para 2021: balancear minha leitura de livros e de mangás. Vejamos se eu cumpro, podem me cobrar no fim do ano. Sem mais delongas, vamos começar esse post tri-cheiroso da minha experiência com Uraboku >>>
SINOPSE

Uragiri wa Boku no Namae wo Shitteiru (trad. The Betrayal Knows My Name) é um mangá shojo de fantasia da autora Hotaru Odagiri, serializado pela revista Asuka entre 2005 e 2017, totalizando 13 volumes e 68 capítulos."Atormentado por sonhos recorrentes dos quais ele não consegue se lembrar e por um estranho poder que permite que os pensamentos e emoções dos outros fluam para ele, o estudante do ensino médio Sakurai Yuki sempre desejou saber a razão de sua existência. Logo depois que um estranho nostálgico e assustadoramente belo chamado Zess salva Yuki de um carro que se aproxima, o chefe do Clã Gioh aparece na casa do grupo adotivo onde Yuki mora, alegando ser da família. Quem são o Clã Gioh? Qual é a conexão deles com Zess? E o mais importante, Yuki pode aceitar seu papel no destino que está à sua frente?" (Fonte: MyAnimeList). 
O TÍTULO DESSE MANGÁ É FACINHO UM DOS MELHORES
Uraboku foi uma das minhas primeiras leituras do ano, vindo logo após o excelente Everyone's Getting Married post em breve!. É uma leitura que sempre me tentou com seu belíssimo visual e plot, envolvendo uma moçoila reencarnada em um moçoilo (ambos chama-se Yuki) e o rapazote capiroto (Luka) crushado na dita cuja tendo que lidar com essa mudança de gênero. Nada muito significante, pois ele próprio demonstra que gênero não interessa contanto que seja Yuki. Que lindo, não? De certa forma, acredito que muito da beleza narrativa de Uraboku esteja em seus personagens e em seus relacionamentos, em como os sentimentos entre eles nasceram e são desenvolvido. São aspectos interessantes, bem delineados e até mesmo intensos! Sem dúvidas o grande acerto da trama. Gostaria de dar destaque ao relacionamentos entre as duplas de Zweilts, mais especificamente as duplas Hotsuma e Shuusei e Kuroto e Senshiro — provavelmente os quatro personagens que mais gosto de toda a trama.

Falando em Zweilt, eles são os guerreiros responsáveis por proteger o mundo dos Duras (equivalente à demônios, os grandes vilões da série). Cada um tem um parceiro e uma arma com propriedades e designs diferentes e bem legais. Acho bacana toda a interação e intimidade que vai crescendo entre eles, é quase como uma gigantesca família de gente ou muito extrovertida ou muito introvertida, é uma graça. Só que eu também consigo enxergar um grande defeito nisso tudo: o protagonista. Vocês aqui do blog sabem que sou grande defensora dos personagens bonzinhos, e com o Yuki não ia ser diferente, certo? Bem, seria. Quase é. Não fosse o fato de, perto de tantos personagens bem feitos e com histórias consistentes, o protagonista só parecer ridiculamente artificial. Isso me choca, pois até o Luka, tendo apenas sua caracterização e mistérios ao redor de seus conflitos internos, consegue ter mais apelo com o leitor do que o protagonista. E veja bem, não é por falta de material! Exemplo: no começo de Uraboku, é dito que muito dessa bondade praticada cegamente pelo Yuki advém do seu medo do abandono e da rejeição, e melhor, que ele age dessa forma consciente de suas verdadeiras intenções por trás de sua gentileza. Pensei eu: "Nossa, que interessante! Isso pode gerar uma conflito por contradição com o Yuki em algum momento futuro, ou algo nessa linha. Muito diferente! Quero ver aonde isso vai dar!". Então. Não deu. Esse aspecto do protagonista não é aprofundado e muito menos retomado adequadamente no futuro. Os poucos conflitos que a insegurança dele geram são desinteressantes e motivadores de momentos maçantes de auto-piedade dele. Não posso deixar de pensar no quão decepcionante é perceber que esse elemento dual do personagem foi simplesmente desperdiçado.

Aliás, muitos elementos e momentos em Uraboku dão essa sensação de que  vão chegar lá e esse "lá" nunca chega, frustrando o leitor. O próprio relacionamento do Yuki com os Zweilts, que são impedidos por natureza de rejeitar o Yuki, é desenvolvido com mais baixos que altos. Eles nunca sequer questionam de fato se esse amor por ele vem de seus próprios corações ou se é algo lhes imposto. Parece que umas poucas palavras doces, que muito bem podiam ser vazias, bastam para convencer essa galera. Veja bem, isso não acontece com um ou dois Zweilts — acontece com praticamente todos eles! Vi algumas resenhas vendendo esse como um dos elementos mais chamativos do mangá, sendo um dos piores na verdade. No fim, esse conjunto corrobora para a sensação de artificialidade que impregna o protagonista e razoavelmente nos distancia dele continuo defensora dos personagens bonzinhos, então isso pra mim não é exatamente um problema.


Narrativamente falando, apesar dessa estrada irregular, a autora consegue fazer com que nossa viagem pelo universo dos Duras seja visualmente encantadora e narrativamente gostosinha. É daquele tipo de trama que te faz grunhir de frustração um monte, mas nunca te faz querer largar o osso igual Fushigi Yuugi. Em termos gerais, a história não inova muito, mas consegue entreter e instigar através dos conceitos e mistérios acerca das verdades não ditas e meias-verdades. Há sempre um prenúncio de tragédia, de traição pairando no ar, e ainda quando a primeira traição acontece por mais óbvia que seja o clima permanece, prometendo que essa foi só a ponta do iceberg. Há também os elementos shounen-ai da trama, que vem tanto do relacionamento entre Luka e Yuki quanto daquele entre as duplas de Zweilt. No entanto, verdade seja dita — tem mais elementos de shounen-ai do que um shonen-ai de fato. O que Uraboku faz aqui não é muito diferente de um Owari no Seraph ou um Free! da vida, que não estão sob o guarda-chuva do Boy's Love. No entanto, se está lá que é um BL, eu concordo — quem sou eu para discordar? Inclusive, já ia me esquecendo, existem muitos elemetos em Uraboku que me lembraram dos mangás da CLAMP, mais especificamente aquele mangá que eu adooooooro veja a ironia, o X. Talvez seja correto também atribuir à essa influência a forma como a autora decidiu tratar o relacionamento entre seus rapazes, assim como alguns elementos gores pontuais e até mesmo a estruturação das batalhas.

Se eu recomendo o mangá de Uraboku? Sim, recomendo. Apesar dos defeitos citados, a história consegue ser atrativa visual e narrativamente, além tocar em temáticas interessantes por mais pinceladas que sejam e ter personagens cativantes. Caso tenha lhe interessado a leitura, vamos à um último tópico que precisa ser comentando sobre Uraboku.
UÉ? CABÔ?
Eu estava até comentando com a Hina-chan no Twitter o quão em choque eu fiquei com o fim abrupto de Uraboku, principalmente porque nenhuma alma bondosa veio me avisar que essa chavasca não tinha final. Pois vejam que karma: Uraboku, que tem muitas influências de X, também recebeu o selinho de "volta um dia mas não promete nada". Irônico, não? O motivo por trás disso foi revelado numa carta que a própria autora escreveu no último volume da série até então, que você pode encontrar traduzida pela Fascínio Asiático em qualquer leitor online autorizado. Em suma, ela lamenta os percalços que a série passou desde seu primeiro hiatus que durou 10 meses entre 2012 e 2013 até o fim repentino. Afirma que sofre de tendinite, e atualmente trabalhar com série de Uraboku exige um esforço físico e mental que ela não pode conceder, logo, o último capítulo marca também o encerramento da obra. Ela diz que tem pretensão de voltar com a história de alguma forma, no entanto a situação atual não lhe permite dar previsões de quando esse dia vai chegar. Até lá, Uraboku vai permanecer com o final em aberto. Isso prejudica e muito a obra, claro, é triste ler cerca de 68 capítulos para não ter qualquer tipo de conclusão decente, mas não podemos ser indiferentes com a coitada da autora. Muito do que ela diz na carta me fez repensar bastante tudo o que li e todas as coisas que considero descompensadas nesse enredo, no sentido de compreender que provavelmente a autora não teve muito tempo e condições para pensar bem na história. Atualmente ela está escrevendo outro shoujo chamado Shinomiya-kun ni wa Wake ga Aru desde 2017 na Asuka Monthly, a mesma revista onde Uraboku era publicado. Desejo de coração que ela esteja bem e que, algum dia, possa retornar à Uraboku num "Kanketsu-hen" da vida.

É isso pessoal, nosso post acaba por aqui. Com isso eu vejo que, de fato, eu tenho problemas em escrever pouco. Se eu fosse parar num Jogos Mortais da vida, o Jigsaw ia mandar eu resumir alguma coisa, certeza. Mas e aí, o que acharam do post? Já conheciam Uraboku? Pretendem ler? Me contem aí embaixo. Um xero e até a próxima <3

Um comentário:

  1. Huh, na honestidade fiquei pensando aqui em como uma trama pode ser bem feita e fechada contando com sessenta e poucos capítulos, e em como deve ser osso para alguém além de estar por trás do roteiro, ter que desenhar tudo o que tem na cabeça, se é que tem algo na cabeça e chego a conclusão de que isso varia de obra para obra. De autor para autor. Eu mesma escrevendo as minhas fanfics empaco por meses, imagina se eu fizesse doujin? Eu tava na roça!

    Mas aqui não senti aquela coceira para um leitura futura, nem mesmo o nome longo (e uragiri me lembrar da abertura de durarara) me cativou então eu não sei ao certo. Suas impressões foram bem marcadas mas ainda não sinto aquela necessidade de ler para tirar a prova logo vou salvar ali no MAL e ver se algum dia uma luz brota em mim e eu leia, se tem uma coisa que eu presto atenção são nas suas recomendações e nas de um youtuber que descobri recentemente - sempre são certeiras hah!

    Só vou me aproveitar e responder um comentário seu Lives (naquele poema que escrevi graças a um comentário seu) pois acho algo válido. Eu costumo não assistir a produtores de conteúdo exatamente pela tendência que a maioria tem de ir na onda do que está em alta no momento, prefiro exatamente ir pontuando títulos que gosto e ver opiniões alheias sobre, mais para agregar, sabe? Claro que as vezes discordo um monte, mas é só ver na forma de tratamento da pessoa que você percebe se ela realmente sabe do quê e como está abordando o assunto, aí eu só pulo pra outra mesmo, até que eu encontre alguém que mostre um raciocínio que eu falhava em ter. Por isso mesmo quem decide produzir conteúdo tem que ter a cabeça no lugar messsmo.

    E realmente, pontuar uma obra é a forma mais resumida de se ofender por gratuidade, tanto que olhando as notas do MAL eu ia mais pelas palavras ao lado dos números do que pelos números mesmo - e ainda acabei dando 9/10 pra muita coisa que muita gente só fala mau - pois eu penso que se for pra criticar, tem que ler (ou ao menos tentar risos) para assim ter uma opinião formada senão, 'cê tá falando mau pra quê exatamente? Se for pra chamar atenção é colocar um abacaxi no pescoço e voilá!

    E ainda nesse tópico de ver para dizer algo, dou como exemplo o oscar desse ano. Não assisti a todos os filmes, mas os poucos que vi me fez ter uma forte opinião sobre os prêmios que "A Voz Suprema do Blues" recebeu, e do motivo por Chadwick Boseman não ter ganho um póstumo como Melhor Ator - mas isso é só exemplo mesmo, não sei o quanto 'cê curte cinema Livus e isso só me serviu para encher linguiça e responder ao menos um dos seus comentários :B

    Vou ficando por aqui,
    Snow <3

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