7.8.20

Angel Sanctuary | Deus, Por Favor, nos Abandone

Olá pessoal, como vocês estão aí? Olha, cá estamos com outro post que vai terminar homérico, viu? Sério, eu não pretendo controlar meus dedinhos nessa postagem. Hoje, dia 18 de Julho de 2020, eu terminei de ler Angel Sanctuary. Quer dizer, de reler uma parte e terminar de ler a outra. Sim, essa experiência me mostrou que lá atrás, quando eu pensei ter lido a história toda, na verdade sequer passei da metade. Se não me engano comecei à ler pela scan brasileira, que não traduziu a obra completa - o que me fez, agora, ir lê-la em inglês. Sinto inclusive que essa experiência elevou meu inglês dois níveis à cima, tanto pela densidade do conteúdo do mangá quanto pelo vocabulário de alguns personagens, que usavam uns termos muito rebuscados que eu nunca vi em outro lugar. Eu já tinha o costume de ler mangás em inglês desde Banana Fish, mas Angel Sanctuary foi uma experiência totalmente nova. Muito mais desafiadora. Fazem algumas horas que eu terminei minha leitura, que foi totalmente desregulada, se lia muito num dia, passava uns dois ou três para retomar. Acho que está completando duas semanas desde que comecei minha empreitada. Assim que encerrei, precisei dar uma soneca de algumas horas, devido ao meu cansaço mental, o que está me guiando para algumas horas da madrugada sem dormir. Estou muito elétrica, de verdade. Também, pudera! Esse final foi de lascar no bom sentido

Nem sei quando essa postagem vai sair, afinal, meu PC surtou hoje, e só Deus sabe quando ele vai ligar de novo. Acho que é uma oportunidade perfeita para comentar que a maioria dos posts gigantes que vocês leem no DF são digitados e corrigidos pelo celular, com a ajuda do bloco de notas. De certa forma é funcional, afinal consigo produzir conteúdo e economizar tempo no computador, e seria ainda melhor se corrigir o texto e editá-lo pelo celular não fosse um inferno. Fica a dica aí, se vocês forem tão masoquistas quanto eu. Eu já mudei de assunto do nada, e é só o começo da postagem. Meu Deus, se tu fores bonzinho e miraculoso tal qual Adam Kadmon, por favor, me ajuda à não zonear demais esse post. Amém. Passei um tempo pensando em que título dar para essa postagem, e nada melhor que a oração icônica dos irmãos Setsuna e Sara, diante do amor proibido que acabavam de consumar: "Deus, por favor, nos abandone". Sim, isso mesmo que você leu. É nesse tipo de conteúdo que a Lives se enfia, e foi aqui que eu amarrei meu burrinho. Sabendo disso, vamos ao post >>>

JÁ QUE É PRA TOMBAR, QUE TOMBEMOS LOGO NA SINOPSE

Angel Sanctuary, ou Tenshi Kinryouku, é um shoujo escrito pela musa Kaori Yuki, sendo a sua obra mais famosa e mais aclamada mundo afora, tanto pela trama complexa quanto pelos visuais de tirar o fôlego. Tudo se passa ao final da década de 1990. O Japão começa a testemunhar uma série de crimes estranhos acontecendo com jovens jogadores de "Angel Sanctuary", um game de PC que provoca a morte de seus jogadores. Nesse meio, o jovem de 17 anos Setsuna Mudou, que pensava que seu maior problema era ser loucamente apaixonado pela própria irmã, chamada Sara, acaba se vendo como o profetizado Messias da nova era, e não apenas isso, como também a reencarnação da angelical Alexiel, um anjo poderoso e criminoso aos olhos do céu. Enquanto isso, o pérfido Rociel, irmão gêmeo da Alexiel, é liberto do selo que o aprisionava dentro da Terra, e jura vingança contra os que o aprisionaram lá, mas principalmente contra sua irmã. A grande guerra final entre céu e inferno está à porta, e em nome de proteger aqueles à quem valoriza, Setsuna embarca em uma jornada de dor, questionamento, lutas internas e externas, e acima de tudo, uma saga que o levará a descobrir grandes conspirações, divinas e demoníacas.
PRETO E BRANCO NUNCA FORAM TÃO CINZA...

Acho bom já começar dizendo que meu primeiro contato com a obra foi pela animação, e por Deus, como ela é bagunçada! Ela adapta até mais ou menos o princípio do arco do inferno em três episódios de trinta minutos cada. Se não me engano, esse arco só começa por volta do capítulo dezoito no mangá, num momento em que os capítulos eram particularmente grandes e introduziam uma penca de conceitos. Por aí vocês tiram o nível. Fora que o traço da Kaori Yuki foi adaptado de um jeito muito estranho, e o principal, que é a coloração soturna das artes do mangá, deram lugar à um colorido forte que me causou muito estranhamento. Só o que se salva é a OST "Messiah", que é bem o tipo de música que combina com a série, e o cast de seiyuus. O Kira é o Dio Brando, minha gente. Já tava esperando o maldito soltar um "KONNO DIO DA" pra a gente. Em todo o caso, vocês já sabem: para aproveitar a obra em sua essência, precisam ir atrás do mangá. Inclusive, vamos pular logo pra ele.

Sobre o aspecto visual: é impressionante. A composição de cenários segue alguns conceitos muito específicos, dependendo do plano ao qual se refere. O inferno, ligado diretamente à Terra e está sofrendo com os efeitos da poluição em nosso plano, o que nos dá cenários desérticos, secos e destruídos nas nossas primeiras visões desse plano. Conforme vamos nos aprofundando, somos apresentados à cenários úmidos, com aspectos sujos e muito, muito escuros. No céu, o conceito é bem claro: se trata de uma sociedade científica cuja vida é guiada pelo uso e estudo da tecnologia, tanto orgânica quanto inorgânica. Nos mais altos cristalinos, os anjos de panteões mais altos vivem com toda a glória que se deve, seguindo uma vida de servidão, "celibatária" eles super obedecem essa condição e sob a mão de ferro do ministro Sevotharte, que é sem sombra de dúvidas um grande fascista. Nos cristalinos mais baixos, nos deparamos com favelas, onde os I-Child, frutos dos relacionamentos proibidos entre anjos, vivem marginalizados e relegados à eterna perseguição pelos "soldados de branco". São ambientes que me lembraram um pouco as ambientações de Alita. O traço da Kaori foi melhorando muito ao longo do mangá, o que é refletido nas suas artes coloridas - que são belíssimas! Algumas delas trabalham com a mistura entre o belo e o bizarro, fator esse que unido à coloração escura proporciona artes de estética bem única, impossível de não chamar atenção. Por falar nisso, um breve comentário: eu sempre achei curioso o design das roupas dos personagens que a Kaori fazia. Dava um ar estiloso bem único, tanto para anjos quanto para demônios, e ao mesmo tempo me deixava encucada. "Putz, como foi que ela pensou nisso?". Lendo os comentários da própria autora logo nos primeiros volumes, a minha ficha caiu. Os designs foram todos inspirados em bandas de J-Rock. Juro, depois de saber disso tudo fez sentido. Vejam algumas artes coloridas (www - www - www) e algumas em preto e branco (www - www - www).

O enredo é simplesmente fascinante, ácido, provocativo, discutindo sem papas na língua assuntos como moralidade, bem e mal, humanidade e até mesmo um pouco de política, why not? Os anjos, que deveriam ser solenes arautos da graça do senhor, são explosivos, invejosos, egoístas, narcisistas, sádicos, safadinhos, e até mesmo criminosos. Por incrível que pareça, eles ainda conseguem realizar coisas boas, sem renegar ou abandonar seus defeitos. Os demônios funcionam do mesmo jeito: são malvados, perversos, e ainda assim são vítimas do povo do céu e do convívio autoritário dessa sociedade. A história segue numa crescente de tensão, até chegar aos últimos cinquenta capítulos, que são a mais pura definição de dedo no cu e gritaria. Para reforçar o impacto de algumas cenas, a autora expõe uma quantidade considerável de violência, que pode servir de gatilho. Aqui, nós temos desde um suicídio brutal até uma criança sendo empalada, então, fica de aviso. Há também a presença de abusos psicológicos e sexuais na trama, que apesar de não serem explícitos, são bem presentes.

Antes de mudar o tópico, preciso dizer que o argumento da Kaori Yuki não é infalível. O texto é carregado, tanto por conta dos inúmeros conceitos usados para explicar o universo em questão quanto pelo drama ultrarromântico. Assim sendo, nem preciso dizer que o simplesmente dramático às vezes cai para o totalmente overdramatic, deixando a leitura massiva e sugando sua vontade de prosseguir. Vejam meu exemplo, foram 120 capítulos concluídos em duas semanas. E o pior não é nada: se você arriscar pular balões porque a leitura está cansativa vai se arrepender amargamente, pois cada explicação é muito necessária pra entender as passagens futuras do enredo, ainda que não necessariamente todas. Outro fator prejudicial são as claras decisões e mudanças de última hora que a autora faz em seu texto não são nem um pouco sutis. Uma mudança que acho digna de nota é na postura que ela toma com duas personagens da história: a Arakune e a Mad Hatter. Quando Arakune é apresentada, percebemos que estamos diante do clássico personagem travesti de mangá noventista, que vai ser apelidado de pervertido, nojento, depravado, entre outras merdas desse tipo, e servir de alívio cômico. Essa postura é condenável, afinal, como pode a autora representar sensivelmente um incesto e não uma personagem que se identifica como mulher? Creio que ela se tocou disso também, pois a personagem ganhou um bom background e parou de ser motivo de piadas. Ainda acho que poderia ter sido melhor fazer isso desde o começo - seria bem mais orgânico. Essa decisão com a Arakune se refletiu, posteriormente, no Mad Hatter, que é tratado com seriedade e em nenhum momento é motivo de piada por sua individualidade. Inclusive, não sei se podemos classificá-la como uma mulher trans. Sendo um anjo caído, a biologia do corpo dele é "diferenciada" todos os anjos são, e é como se ela não fosse nem inteiramente homem nem mulher, mas se identifica com o gênero masculino. Pessoas que entendem disso melhor do que eu, se sintam livres para opinar sobre (inclusive se eu disse alguma besteira).


Acho que, nesse ponto, já podemos falar da melhor parte de Angel Sanctuary: os personagens. De princípio, acho bom ressaltar que nenhum deles é puramente herói ou vilão. A maioria têm alguma culpa muito pesada do cartório e todos erraram em algum momento, logo, se você não estiver disposto à presenciar isso de mente aberta, sem condená-los ou ao menos tentar compreendê-los, digo que você vai odiar à todos. Se existe algo em comum em todos os personagens desse mangá são seus erros. Vamos conversar sobre alguns desses personagens. Nada melhor do que começar pelo protagonista, Setsuna Mudou. Eu não gostei dele na primeira vez que eu li, já que ao meu ver, ele sempre pareceu um personagem mais fraco do que os outros no que diz respeito à história. Não o achava interessante, em suma. Nessa releitura, eu consigo dizer que me acostumei ao Setsuna, e até mesmo consegui gostar dele, mesmo que só um pouquinho. Ele é o Messias, o cara que vai interceder pela humanidade na luta entre céu e inferno, mas não tem a mínima postura do que se espera de um salvador. Ele é debochado, grosseiro e leva quase nada à sério. É tanto que única coisa que o faz compactuar com o cargo de "salvador" é uma certa alma que ele vai ter que ir buscar no inferno. Lembrando que, nesse momento, Tóquio tinha acabado de presenciar um terremoto de alto impacto. É interessante perceber que situações muito inoportunas vão sendo provocadas por suas ações imprudentes. Aos poucos, ele começa a se preocupar mais com as próprias decisões, afinal, não é só a patota de amigos dele que corre riscos nessa brincadeira - um mundo inteiro e milhares de vidas também. Essas decisões babacas por parte dele me dão nos nervos, principalmente pelos personagens que morrem em função disso. Apesar de tudo, ele é um cara legal, se importa com os seus, aprende a se sacrificar, à chorar por eles, e isso é bonito de ver. Quanto ao tão polêmico incesto que existe na história, eu devo dizer que é até de boas (?). Eu não consegui apoiar o casal entre ele e a irmã de fato, pois eu sempre me lembrava: "caramba, eles são irmãos, isso não é legal". Se você não tem irmãos, provavelmente você tem esse problema. Porém, o casal por si só é tranquilo de levar. Se você prestar atenção no enredo, além das muitas conspirações envolvidas, vai perceber que Sara e Setsuna nunca se viram como irmãos de fato. Por mais que ela o chame de "onii-chan", sua fala é insípida, não tem peso familiar. É quase um apelido. Então, no fim das contas, nem parece um incesto. Parece um casal de amigos que se conhecem desde pequenos. Por falar em Sara, me incomoda um pouco o jeito que a Kaori decidiu retratá-la. Por mais que a futura cena do tribunal tenha sido fenomenal e a Sara tenha se provado decidida, é triste vê-la limitada à posição de donzela em perigo na maior parte do tempo. E quando não, a autora a insere em situações bem estúpidas que não contribuem nem um pouco para gostarmos dela. Engraçado, a autora diz gostar de desenhar a Sara por seus cabelos longos e a oportunidade de fazer extravagantes roupas femininas, e no entanto lhe dá pouquíssimo tempo de palco para mostrar à que veio. Sequer posso dar um bom juízo sobre a personagem por conta disso. Gostaria que a Sara tivesse sido melhor tratada, como aquele que é o melhor personagem da história: Kira Sakuya.

Kira Sakuya é o dono de Angel Sanctuary. Ele rouba a atenção toda vez que aparece, é sarcástico, um boy problema cheio de mistérios cabulosos e que, ainda assim, consegue ser sentimental, e ter uma das trajetórias mais interessantes e complexas. Na verdade, a pessoa que atende por Kira morreu aos sete anos de idade, num acidente que também tirou a vida de sua mãe. A pessoa que conhecemos, o Kira-senpai, é na verdade um espírito maligno que fez um trato com o Kira criança no momento de sua morte, onde o menino ofereceu seu corpo ao espírito em troca de que ele continuasse vivendo. Nesse trato também, o menino pede ao espírito que faça com que seu pai o odeie, pois aquele corpo não vai aguentar muito tempo, e quando Kira morrer de uma vez por todas, seu pai não deve sentir falta dele. O espírito em questão, cujo nome e origem são spoilers demasiados picantes, viveu viajando entre as eras atrás das encarnações de Alexiel, buscando sempre brechas para poder matá-la  se apossando de humanos durante um curto período de tempo. Mas no caso do menino Kira, ele passou onze anos vivendo como um ser humano normal, aprendendo os sentimentos e as coisas inerentes à existência humana que ele nem sabia existir, e passou à gostar disso. Ele se afeiçoou muito ao pai do menino, à amigos improváveis como o Katou, e principalmente, aprendeu à amar sem segundas intenções. Isso se concretiza na cena em que Mad Hatter ou Belial pergunta ao Kira se ele ama o Messias, e ele sequer hesita em sua resposta. Que amor é esse? Não tenho certeza do sentido. Parece mais ser como um irmão mais velho, mas não sou cética à possibilidade de um amor romântico. Em todo caso, prefiro acreditar na primeira opção. A história do Sakuya ainda carrega muitos mistérios mais, mas que para compreender bem, é necessário que leiam. Uma observação: prestem atenção às coisas que ele diz e nas coisas que realmente aconteceram. Não que essa minha observação vá inocentá-lo de seus erros, mas ao menos fará vocês entenderem a razão de ter acontecido.


Agora vamos falar dos gêmeos Alexiel e Rociel - anjo orgânico e inorgânico, respectivamente. A Alexiel é uma personagem fodástica, a própria arrasa quarteirão encarnada, e a primeira pessoa em muito tempo que, de vontade própria, revoltou-se contra Deus. Ao ver como os anjos eram opressores e cruéis no inferno com os demônios, ela ficou decidida à liderá-los em uma investida contra os céus. Por uma série de motivos, deu tudo errado, e ela foi condenada de duas formas: primeiro, teve sua alma separada do corpo; segundo, essa alma é amaldiçoada á viver em um ciclo vicioso de reincarnações, que sempre terminam com ela morrendo jovem e de forma brutal. O Setsuna foi o único ponto fora da curva, tanto por ser homem quanto por não morrer cedo. Ela não é uma personagem fácil de entender, o que não quer dizer que ela não seja simplesmente fascinante. As motivações por trás de suas ações tem como cerne esse sentimento de revolta que ela carrega consigo desde seu nascimento, e desde que compreendeu a verdade sobre sua existência, que atendia à um propósito frio, mesquinho. Como se já não bastasse, viver anos convivendo com a constante rejeição endureceu seu caráter e seu coração, fazendo-a, inconscientemente, replicar as mesmas atitudes sofridas em seu irmão. Sobre o Rociel, ele é ardiloso, faz artimanhas extremamente cruéis com todo mundo, até com as pessoas que ele supostamente ama. Além disso, também é muito narcisista, quer ser o centro das atenções o tempo todo, e é especialmente sádico. Ele gosta de ver o circo pegando fogo. A relação dele com a Alex é complicada, muito amor e muito ódio envolvido. E, no fim das contas, ele é uma vítima - uma criatura que perdeu o controle pelo descaso do seu Dr. Frankenstein. Diga-se de passagem, a conceituação do Rociel é simplesmente foda! Sendo o anjo inorgânico, ele é um misto de carne em constante putrefação com máquina - ou melhor, cabos. Existem cenas no mangá dele usando suas habilidades que são simplesmente antológicas. É algo mágico e ao mesmo tempo repulsivo de se ver.

Comentando sobre os anjos, a maioria deles são grandes desgraçados. Outra minoria são desgraçados só numa primeira impressão. E uma minoria menor ainda são maravilhosos desde o começo. Vou comentar brevemente sobre alguns. Primeiramente, temos o Uriel, o anjo cardinal da Terra que está desaparecido há muito tempo. Ele é o único dos anjos à ter pele marrom, e cujo guarda-roupas só tem roupa preta. É outro personagem muito duro consigo mesmo, e um dos que mais ajuda o Setsuna no fim das contas - além de ser um sujeito tremendamente apaixonante. Raphael é o anjo do ar, um carinha bastante safadinho, mas que tem um bom arco de personagem e, apesar de todas as suas ações serem movidas por segundas intenções, ele se torna uma figura que dá pra gostar. Miguel é o anjo do fogo, um cabeça vermelha, briguento e muito agressivo, irmão de um certo anjo muito famoso, conhecido por vocês, e com quem ele tem uma treta pesadíssima. Jibrille, ou a anja Gabriel,  comanda o elemento água, e é uma das que menos aparece durante o desenrolar da trama. Eu honestamente queria que a autora tivesse dado mais espaço à essa personagem, ela merecia.  Temos também o anjo Raziel e seu tutor Zaphikel, um dos chamados "tronos", o alto escalão do céu. O Zaphikel não é um santo, tem muito podre na história dele. Mas é simplesmente impossível não simpatizar com ele, com a evolução dele e com suas tragédias. A relação paternal que ele tem com o Raziel que é o próprio rolinho de canela, um pitico é linda, é uma das minhas partes favoritas de Angel Sanctuary e que rendeu uma cena mais pra frente que fez meu olho encher d'água. Por último, gostaria de comentar do Sevotharte. Ele é um infeliz. Um grandessíssimo filho da puta. Mas eu juro pra vocês: o passado dele foi um tapa na minha cara. Meu Deus, o que foi aquilo? Se eu disser que esperava, vocês podem me chamar de Mãe Dinah. Justifica as merdas que ele faz? Lógico que não, mas é impossível não ficar incomodado com o que aconteceu antes dele ser o todo poderoso ministro Sevotharte. Além do mais, o destino guarda para ele um fim muito cruel - honestamente, algo que eu não conseguiria desejar nem ao meu pior inimigo.

Agora, vamos falar dos demônios. A sociedade deles é bem dividida conforme seus níveis, e quanto mais baixo você vai, mais galerinha da pesada você encontra. Nos níveis mais superficiais, temos a Dama dos Dragões Kurai, uma menina bastante esquentadinha, energética e que sonha em ser uma mulher como a Alexiel, por quem ela é devotada. Ao conhecer melhor o Setsuna, ela acaba se apaixonando por ele, e apesar que eu goste da personagem, toda essa questão dela gostar do cara e ele não corresponder não é nem um pouco interessante, consome um tempo precioso da narrativa e acaba condenando a personagem à um arco muito chato por um bom tempo - ainda assim, ela tem seus momentos de brilho. A Kurai tem alguns servos, como os gêmeos Noise e Voice (que merecem nosso respeito e apreciação, de verdade), e sua prima, a Arakune. A história da Arakune é muito complicada, tanto em termos de passado quanto de presente. Ela é legal, mas nunca deixa de ter um ar muito grande de "algo não cheira bem" ao redor dela - e quando você entende, as coisas que ela faz ganham peso, uma motivação convincente. Apesar disso, não concordo muito com o que a autora fez com ela lá pelos capítulos 50~60, eu creio que poderia ter sido de outra forma. Em todo caso, gosto como a Kaori Yuki não associa o passado traumático dela à forma com a qual ela se identifica, e deixa claro que foi uma auto-descoberta que veio com o tempo. Dos demônios de níveis mais baixos, destaco três: Mad Hatter, Astaroth e Lady Astaroth. Mad Hatter é um personagem malicioso, que provoca situações caóticas de acordo com seus interesses, e nunca passa por um lugar sem deixar rastros. Sua motivação maior é servir ao seu mestre, Lúcifer, cuja fascinação e paixão decorrem de forma tamanha ao ponto dela não se enxergar merecedora do amor dele, e sair por aí atrás de esposas ideais para ele isso, claro, tirando o fato de que elas são sacrifícios também. Astaroth e Lady Astaroth são irmãos gêmeos, e ambos são totalmente instáveis mentalmente - mais ele do que ela. O irmão, inclusive, é extremamente abusivo com a própria irmã, sendo capaz até mesmo de matar os filhos dela ainda dentro da barriga. Apesar da curta aparição, a conceituação deles, depois da do Rociel, é a melhor de Angel Sanctuary. Gosto de toda a relação que é feita entre eles e as cobras, bem como suas formas transformadas. Por fim, durante toda a história, você fica no aguardo de duas figuras sem as quais a Guerra Santa sequer pode começar: Deus e Lúcifer. E eu não sei dizer qual aparição foi mais surpreendente. Talvez a de Deus, pois ele só aparece próximo do final, mas ambas são bem inesperadas. Inclusive, inserindo o espírito milagroso Adam Kadmon à equação, temos um trio de personagens relacionados cujo background é simplesmente insano, muito bem feito mesmo.

Ufa, por hoje é só, galerinha! Espero que esse post tenha ao menos atiçado a curiosidade de vocês com relação à esse título. Infelizmente, o mangá só está disponível na internet em inglês, e é necessário ao menos um domínio intermediário da língua para poder aproveitar o argumento da autora em sua totalidade. Para quem for atrás, boa leitura! Um xero e até a próxima <3

Um comentário:

  1. Hoje eu madrugo, mas madrugo comentando em todas as suas postagens Lives, me segura que hoje vai dar QQ não sei porque raios eu estava enrolando tanto assim para aparecer aqui, mas acho que gosto de acumular postagem para ler e depois passar uma tarde, uma madrugada conferindo meu conteúdo acumulado.

    E se te serve de consolo, tudo o que publico no Doukyuusei desde sua criação foi produzido no ColorNote. Eu acumulo muito mais rascunho no celular do que no Blogger mesmo e só o uso para edição final, revisão e coisa e tal, acho bem mais prático por mais que nesse mês eu tenho escrito mais pelo computador. Agora chega de devagar e vamos a postagem, yayy!!

    Como não conhecia Angel Sanctuary até o momento dessa postagem, não vou poder falar muita coisa sobre, mas devo dizer que ao longo da leitura não pude deixar de me lembrar de Tarot Café (o manhwa que me deu a ideia de criar aquela série dos arcanos maiores), principalmente depois de achar um "Belial" ali no meio e também, acabei puxando Preacher no meio pois cacetada! Do jeito que tú descreveu esse negócio eu só consigo me lembrar do quão "QUÊ QUE EU TÔ LENDO!? POR QUE RAIOS MEU TIO ACHOU DECENTE ME EMPRESTAR ISSO!??" eu fiquei quando li os primeiros volumes dessa HQ que aliás, não terminei e achei beem aquém a adaptação para o seriado.

    No mais, Angel Sanctuary me aprece uma trama densa e pesada para ler numa tacada só, como costumo fazer normalmente. Tenho a impressão de que vou ficar com sono conforme a leitura mas fiquei intrigada, mesmo a arte não me agradando taanto assim, em algum momento futuro eu possa pegá-la para ler e ver no que dá, né não?

    Mas honestamente falando contigo Lives, eu acho essas histórias que colocam céu e inferno no meio coisas bem passáveis. Até hoje não achei uma que destoasse o suficiente para me fazer pensar "okaayy, isso aqui é interessante!" mas ó, sua postagem tá bem boa! A leitura aqui valeu menina!

    Respondendo outros de seus comentários: Lives, 'cê é literalmente a segunda pessoa que eu conheço que viu a primeira temporada de DRRR!! inteira, eu tô quase te pedindo um abraço aqui de tanta empolgação! Sério, eu acho o maior sarro eu falando do anime e do nada vem a pessoa me dizendo que nem terminou ele - e tá certo que o começo é realmente massante mas caramba, tá pra nascer uma trama tão bacana quanto a de DRRR!! ;w;

    E não sei se te dizer isso anima mas, só da segunda temporada ter sido dividida em três partes de doze episódios cada e vir recheada de gente nova foi algo que me animou muito! Sem contar que eu consegui acompanhá-la conforme os lançamentos e nossa, a emoção que não era! As músicas estão tão boas quanto as da primeira e os traços mudam de uma a outra mas ficou muito bem feito - aliás Shinra e Celty tem um background lindo menina, vai por mim, vai ter lágrimas no final.

    [gritinhos afetados] você vai publicar seus poemas também Lives!? Tô emocionada aqui ;w; vou lê-los com carinho pode ter certeza disso, só não garanto que eu vá ler tudo sobre o que eles se tratam pois eu tenho meus limites QQ mas dedicá-los a personagens e obras que lhe são queridas vai ser algo bom :3

    Beijos, Snow!

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