Quando eu resolvi investir em aplicativos de lista, como o Skoob e o MyAnimeList, eu tinha intenção de expandir meu leque de enredos, e principalmente no que diz respeito à mídia japonesa, já que comecei a ler mangás com mais frequência por conta do que descobri no MAL. Nessas idas e vindas, me deparei com um mangá volume único bem esquisito, e que possuía um nome já conhecido por mim: Helter Skelter. Conhecia, nessa altura, tanto a música dos Beatles quanto o livro, esse último que contava a história do caso Tate-LaBianca, conhecido de forma infame por envolver o assassinato da atriz Sharon Tate à mando do dito cujo Charles Manson. Pra quem quiser conhecer melhor o caso e de forma mais resumida, deixarei dois vídeos (www | www) pra quem quiser conferir depois. Mas, afinal de contas, no que consiste o mangá Helter Skelter? Numa viagem complexa e, até mesmo, perturbadora, dentro dos pensamentos e vivências de uma mulher saturada pela busca por uma beleza ideal e fama constante. Desde já digo que não é uma história pra todo mundo, seja pela arte, que é pouco convencional, ou pelo peso psicológico da trama, já que ela se aprofunda bastante no que propõe. Em todo caso, sigamos com este post >>>
SINOPSE
Liliko (ou Ririko, no caso) é uma importante modelo no cenário da moda japonesa, conhecida por seu jeito de ser, simpática e versátil em quase todas as áreas que contam com câmeras e holofotes, e sua aparência, que visivelmente influencia jovens a querer "ser" como ela. O que quase ninguém sabe é o tipo de vida que ela realmente leva, lotado de um estresse emocional pesado e uma busca pelo "ser perfeito" nada saudável, que a torna uma pessoa amarga, cruel e de difícil convivência. Presa nesse círculo vicioso, a protagonista tende a muita coisa, ao mesmo tempo em que não tende a lugar nenhum. A imprevisibilidade e o absurdo passam a definir sua persona, tão não grata que passa a carecer de compreensão, de uma válvula de escape nessa espiral que se tornou sua vida.
FALANDO SOBRE
A autora, Kyoko Okazaki, é bem inteligente e concisa no tema que quer trabalhar, ainda que use cenas simbolistas e um pouquinho psicodélicas no decorrer da história. Quer dizer, o Inio Asano (Oyasumi Punpun, Hikari no Machi e Umibe no Onanoko) disse que as obras dela lhe serviram de inspiração, então o que esperar da principal influência dessa criatura, não é mesmo? E realmente, aqui, em Helter Skelter, estão presentes muitos elementos em comum com histórias do Asano, como o drama pesado, as cenas de sexo incômodas e as frases sensacionais, além das críticas incutidas no texto de forma mais direta que uma bala. Na realidade, acho que a palavra que melhor define o esse mangá é incômodo. Tudo aqui dá a sensação de algo errado, algo que não era pra você estar vendo, desde o desenho, assimétrico e todo "bugado", até as ações da protagonista, que são de um nível que olha, inacreditável.
"Uma palavra antes de começarmos: uma risada e um grito são muito similares" |
E tudo piora quando a autora resolve colocar uma ajudante (ou agente, dessa parte eu não lembro bem) como exemplo de como funcionam as relações da Liliko e caramba, essa moça jogou pedra na cruz, no mínimo. Outro mérito da autora é o quão absurdamente críveis são os personagens aqui, mesmo no exagero de determinadas situações, divididos entre supostas parcelas de mercenários, que apenas se importa com lucros, manipuladores, como a própria protagonista, que canaliza suas frustrações em tornar a vida das outras pessoas num inferno, e os manipuláveis, que por uma razão ou outra tendem à baixar a cabeça e suportar tudo para não perder alguma coisa, como, por exemplo, o emprego. E honestamente, não tem nada mais assustadoramente real que isso. O cerne do texto é uma crítica, principalmente, ao padrão de beleza e o medo da decadência, que é um aspecto fantástico de ser tratado, principalmente por conta de sua atualidade. Só que, aqui, a autora não se responsabiliza por mensagens positivas ou por conscientizações rasas, uma vez que sua intenção é expor o cru, o dolorido, aquilo que os dois pontos anteriores suavizam e ela decide por meter o pé na jaca, daí o porquê de ser um mangá perturbador. A sensação de "vai dar merda" aqui é constante, e quando você pensa que não, a coisa piora.
As frases que a protagonista diz e pensa (ótimas, aliás) falam muito sobre sua própria situação, mostrando o quão quebrada ela está por dentro e que ela sabe que está em um caminho de destruição, mas ela simplesmente se convence, indiretamente, de que para ela é isso ou é nada, e cada vez mais a ideia de ser passada para trás, ser esquecida, a torna uma pessoa pior, disposta a coisas piores para alcançar o seu "melhor". Quem se interessar, tem traduzido em português na internet e o volume físico foi traduzido pela NewPop Editora aqui no Brasil.
"Eu escuto um som dentro de mim. Eu escuto alguma coisa tiquetaqueando dentro de mim. Eu escuto um som dizendo para me apressar. Esse som... É o som de algo acabando dentro de mim..." |
As frases que a protagonista diz e pensa (ótimas, aliás) falam muito sobre sua própria situação, mostrando o quão quebrada ela está por dentro e que ela sabe que está em um caminho de destruição, mas ela simplesmente se convence, indiretamente, de que para ela é isso ou é nada, e cada vez mais a ideia de ser passada para trás, ser esquecida, a torna uma pessoa pior, disposta a coisas piores para alcançar o seu "melhor". Quem se interessar, tem traduzido em português na internet e o volume físico foi traduzido pela NewPop Editora aqui no Brasil.
É isso. Obrigada por terem lido até aqui, pretendo trazer mais posts sobre os mangás que li aqui e mais coisas com essas temática menos leves, e das mais leves também, porque né, não sou de ferro. Lembrem-se sempre de praticar o amor próprio (sem sacanagem, ok?), porque além de ser uma das suas principais defesas contra os sofrimentos psíquicos, também te ajuda no auto-conhecimento e te permite amar melhor o próximo. Tchauzinho e até a próxima...
"Look out helter skelter helter skelter
Helter skelter
Look out, cause here she comes.
When I get to the bottom I go back to the top of the slide
Helter skelter
Look out, cause here she comes.
When I get to the bottom I go back to the top of the slide
Where I stop and I turn and I can go for a ride
Till I get to the bottom and I see you again."
- Helter Skelter, The Beatles
- Helter Skelter, The Beatles
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